Fazia quase um mês que ela não sentia aquela pele que a esquentava pelo menos uma vez por semana. E, naquela noite, ainda cansada pelo dia corrido, levantou-se, prendeu os cabelos enrolados bem no alto da cabeça, pintou os olhos de negro e, com a boca carmim, saiu de casa como uma gueixa.
Quando chegou ao bar, ainda na porta, não olhou para o salão como de costume. Manteve-se no presente. No presente da moça que lhe pedia o nome e seis reais para ouvir a banda que tocava. Entrou. Displiscentemente foi ao bar. Andou como uma desconhecida. E este andar de desprezo chamou a atenção dele que a observava pelas frestas das cabeças que se multiplicavam, balançando-se ao som da música e escondendo a imagem dela que surgia as vezes por entre a multidão.
Ela tomava uma cerveja no balcão, quando ele se aproximou. Pediu um trago de cachaça e voltou-se a ela:
- cadê o seu namorado?
Ela deu um gole no copo gelado, com desdém, depois apertou os lábios para não rir e, levantando a fina sombrancelha, retrucou:
- Você acha que eu sou tão fácil assim pra namorar?
Ele sorriu. Lembrou-se do humor que a deixava tão deliciosa. E, na rapidez de uma pisadela e um beliscão, foram embora juntos.
Chegaram na casa dela e, mal abriram o portão, ele a levantou no colo e começou a beijá-la, ainda no jardim. Foram cambaleantes para o quarto, tropeçando neles mesmos. E caíram na cama, como se nunca tivessem feito isso.
Ela sentia aquele peso trêmulo que dava matéria a sua vida, ao seu sono. Ele olhava-a como se sugasse sua alma. E os dois se apertavam como se pudessem arrancar um pedaço do outro para tê-lo consigo.
Quando tudo começou a virar sonho, ele levantou um dos braços e deu-lhe um tapa no rosto. Ela rapidamente reagiu e, com uma força que ele nunca havia visto, tentou afastá-lo, estapenado-o.
Sua cara era uma mistura de fúria e susto. Ela estava assustada, mas não queria ainda soltá-lo. Segurando-a pelos braços, ele conseguiu dominá-la e a abraçou quase suficando-a. A respiração ofegante embalou os dois até a exaustão.
Ao final, sentindo ainda o pulsar do outro, adormeceram abraçados. E ela sentiu-se amada.