segunda-feira, maio 21, 2007

“[Suely] Vilela se recusou a assinar um documento com as propostas, como pedem os alunos, mas garante que as propostas serão cumpridas.”(Jornal da uol)

Brincadeira de criança. É assim que erroneamente a reitora tem lidado com as reivindicações estudantis, desde sua ausência na reunião agendada com o movimento, que culminou na ocupação do prédio, até na resposta ‘imediata’ às mesmas reivindicações. Apresentadas sem estudo prévio e já numa primeira sentada na mesa de negociação, as soluções dadas pela reitoria não podem ser levadas a sério. Elas só querem nos calar. Como forma paliativa de, não resolver os problemas expressados pelos alunos, mas garantir a desocupação do prédio, elas foram vomitadas sem nenhuma discussão sobre sua viabilidade. E é por isso que o prédio continua ocupado.

Porque não adianta nos levar pra passear na disneylândia e entupir nossas bocas com bala-juquinha, pra gente parar de chorar. Viu, D. Cocota?!!

Inferno astral

Dizem que alguns dias antes do aniversário a gente fica assim, meio abobada, meio triste, como se fosse uma ressaca da vida, tão eterna quanto ela mesma, mas que passa depois da data festiva. O problema é que a gente ainda não sabe...
Ou então é uma grande desculpa astrológica para tudo aquilo que nos acomete.

Um fim obsceno para um amor proibido.

Superlativo pela própria condição de não-ser,
mais uma contração foi perdida no ato
do acaso de nos encontrarmos
em momentos tão diferentes.

A vida segue em frente

Em mais um abraço
na cintura
no meio da multidão.
Ou naquele sopro no ouvido,
quando nos esbarramos
na contra-mão.

segunda-feira, maio 14, 2007

Ressaca Monstra

Prefiro a memória fantasiada
à cruel lembrança registrada.

ou será o contrário...
Acabei de achar você em mim
assim
num ato inconsequente de não te procurar
Queria ter contigo de novo
essa inspiração, esse sopro
Lembra quando eu quis que você fosse embora?
agora fica mais um pouco
isso!
demora

Menino recém-chegado
cabeça pelada batalha
Hoje sou eu quem morro
no sufoco
de não comer mais uma goiaba contigo
Saudades do tempo de menina
em que eu achava
que eu era mulher
isso!
me nina

quinta-feira, maio 03, 2007

Extra! Extra!

Há anos que ocupar a reitoria é senão uma possibilidade real de barganha com aqueles que não nos ouvem, uma vontade vaidosa do movimento estudantil. Um símbolo da radicalização que antigamente se resolvia com uma boa greve e muitos piquetes, mas que hoje soam apenas como brincadeira de moleque mimado que quer gastar dinheiro público permanecendo mais do que quatro anos em cursos que, convenhamos, podiam ser concluídos em dois; afinal, ninguém que estuda filosofia vai salvar a vida de um cidadão contribuinte em cinco minutos com uma caneta bic na traquéia ou em quatro anos, com um pacote econômico que permita a ele comprar a geladeira em prestações-sem-juros.
Mas, messianismos e apologias às apelidadas “Humanidades” (que o nosso Aurélio define como - além de natureza humana - benevolência, clemência e compaixão) á parte, quem ocupou o prédio da D. Suely certamente não estuda na FMUSP, nem na São Francisso, nem na POLI. (Peço licença para registrar aqui a presença de companheiros da Nutrição, Educação Física e outras unidades tradicionalmente relegadas ao esquecimento político, mas que, dessa vez, e talvez de várias outras, engrossaram o caldo pé-na-porta).
Pois é: eis que hoje, dezenas (e depois centenas) de estudantes destruíram as grades da entrada do prédio da reitoria após serem barrados ao tentarem entrar na audiência que ia ouvir quem? Eles mesmos. Siiiim. Havia uma reunião agendada com a reitora para que fossem esclarecidas a nós estudantes as posições institucionais da universidade quanto às emendas do governo Serra que comprometem a autonomia universitária. Começou, então a brincadeira: ONDE ESTÁ SUELY? Alguns diziam que já estava no céu; outros, que tinha ido namorar; outros, que comia brioches em uma padaria não-sei-o-quê-pari; quando se confirmou, ela estava na capital da França!! Alameda Franca? Não!!! Seu bobo! em Paris, França! Aí, pronto: sem assembléia, nem nada...(veja bem: sem assembléia, neeem naaaada...)os estudantes quebraram as grades e entraram no prédio. Ai que orgulho! Cinco anos tentando e não é que uma hora chega?

Quando eu soube, senti uma mistura das duas coisas. Um: “que sagaz! Só podia ser essa a ação mesmo”; e outro: “aê, até que enfim vou ver essa merda ocupada!”. Corri da sala de aula e fui direto pro prédio.

Cheguei. De cara, escuto:

- Carteirinha!
- Quê?? Não...não! Peraí: esse prédio foi ocupado, não foi?
- Foi
- Por estudantes, não foi?
- Foi
- E por que ainda tem que mostrar carteirinha pra entrar nele?
- A plenária que decidiu! Pra não entrar jornalista, gente filmando...

De repente, me sai o cara do Diário de S. Paulo com uma mina pendurada nele dizendo que era da Comissão de sei-lá-o-quê e que ela era a responsável por falar com a imprensa. Ué, mas esse pode?

- Moço! Mas esse pode?
- A plenária que decidiu...

Entrei, sem mostrar a carteirinha, claro. Até porque eu perdi a minha...E fui participar da plenária. Briga vai, briga vem. Conlute, UJS, Conlute, UJS, UJS, Conlute, Conlute, Conlute, Conlute...
Fiquei por umas duas horas e fui embora quando pediram pra uma menina que tinha participado da ocupação sair porque estava filmando, com um outro estudante gritando na cara dela: quero meus direitos de imagem!
Percebi que, de fato, nem sempre ocupação quer dizer radicalização, me lembrei do acampamento João Cândido. E para aqueles que acreditam e pensam no que fazem, deixo meu manifesto:

NÃO AO MONOPÓLIO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
NÃO À PROPRIEDADE INTELECTUAL
NÃO À FALTA DE MORADIA DIGNA
NÃO AO SINISMO POLÍTICO

E SIM A TODAS AS OCUPAÇÕES QUE CONSIDERAM E LUTAM CONTRA ESSAS COISAS!!!

Boa noite pra todos que estão lá tomando dolly, passando frio e segurando as pontas por acreditarem.

quarta-feira, maio 02, 2007

"Perto de muita água, tudo é feliz" ( Guimarães Rosa)

Mesmo longe daquela imensidão verde que a gente costuma chamar de mar, pude sentir o cheiro vazio que a água tem. Bem mais adocicado que a aspereza do sal marinho, o odor do rio me lembra a noite. A brisa é diferente. A giganteza dele é finita. Eu poderia atravessar até o outro lado, mas não vou. Isso me guarda mais mistérios.
Nesse final de semana teve seresta na beira dele. Muitos velhinhos reunidos pra lembrar do tempo que já foi. De quando não precisava de palco, nem de luz fria. De quando pedir pra deus um amor não era brega e nem custava dinheiro. De quando saudade doía.
Ouvi muito Noel Rosa e Cartola, que voavam magnificamente das mãos e vozes dos Meninos. Tinham todos mais de setenta anos e se sentavam um ao lado do outro, de frente aquela multidão de senhoras lambuzadas de batom e de crianças enfeitadas com algodão doce. Os olhos brilhavam essa saudade. As mãos grossas, gastas, cheias de pintinhas arranhavam as cordas de aço do violão que esteve sempre ali, grudado no peito. O bandolim, um desfeito, levantou-se antes da hora. Ma ficaram o sopro, o cavaco e a viola. Conversando essa linguagem antiga.
O olhar do moço me arrebatou como um suspiro. Junto veio um assobio de dentro do rio. Surpreendido por eu saber a letra daquela canção seresteira. E eu, orgulhosa, continuei:

“Quando no terreiro
Faz noite de luar
E vem a saudade me atormentar
Eu me vingo dela
Tocando viola de papo pro ar”

Ele me desabrochou um sorriso de gratidão, que eu retribuí com o olhar.
Me deu de repente uma vontade não-sei-de-quê, vontade da velhice, acho que dessa tranqüilidade,
desse passado que eu ainda não tive.