sábado, setembro 16, 2006

Avesso

A chuva enxarcando meus pés me dizia que eu precisava voltar pra casa. Hesitante ainda pelo papo bom, olhei no relógio e já batiam onze.
-Tchau! Tenho que ir.
O metrô um pouco cheio. Cheio de promessas de salto alto para um sábado úmido. A vontade de chegar meio inexplicável, como um frio que percorre as entranhas e desemboca no silêncio. Aquele de responder apenas o necessário enquanto se observa a rapidez do trem quase lento. Uma mistura de ansiedade e sufoco. Talvez um pouco de vertigem. A memória vaga de uma sensação antiga que ainda domina o corpo. Furor miúdo.
Na minha frente mãos dadas de uma maneia tão banal. A menina olha pro infinito e o rapaz, um pouco inquieto, presta atenção nas paradas, lê as placas e olha desconfiado para a senhora que tenta se equilibrar em cima de sapatos traiçoeiros. Com minha cabeça apoiada no vidro, tento lembrar o que foi hoje e o que foi ontem. Faz quantos dias mesmo?
A incerteza da chegada. O barulho do portão. Nada.
Uma pequena ousadia e só uma explicação.