segunda-feira, agosto 14, 2006

Tudo tem sua primeira vez

Há dez meses não visitava a casa da minha avó por parte de pai. Escolhi ir até lá neste final de semana. Antes queria passar algumas horas na festa de inauguração de um dos assentamentos aqui da capital. Rir e beber a luta pela terra, já que o que ela faz mesmo é castigar. É tudo na Anhanguera mesmo...então fui logo na hora do almoço pra o Irmã Alberta.
Uma das primeiras pessoas que avistei foi ela. Do alto dos seus um metro e quarenta, devidamente trajada com seu hábito, a freirinha me olhava e abria um sorriso de satisfação. Cumprimentei-a com um gesto simples de cabeça e continuei a fitar a festa.
Já no culto ecumênico, enquanto segurava a lata de cerveja de uma amiga que tirava algumas fotos escuto: - essas daí não vão pras página não, né? Ela, há umas dez pessoas do cara que gritava, teve que assumir a bronca e responder aos olhos e ouvidos de todos que haviam presenciado a intimação do moço: - não! – Ah, bom, então tá! Enquanto isso, quando me viro, faminta, vejo um pão, lindo, fofo, gordo andando em minha direção e quando estico minhas mãos para alcançá-lo, volto-me para o portador: - Suplicy??? Sim ele mesmo.... querendo fingir ser o moço que queria fingir que era ele. Essa é a deliciosa inversão que só poderia acontecer ali. Uma loucura. Mas não maior que ver tudo isso ao som de “Glória a vós, senhor”.
Me diverti a pamparras. Reencontrei pessoas queridas e debutei minha linda e loura cadela na luta. É isso mesmo, a Frida Maria Khalo Basso participou de sua primeira atividade político-subversiva, desfilou com a bandeira vermelha, chupou gelo na terra roxa e viveu sua primeira experiência rural. Tadinha...tudo na coleira, mas ela ainda a de perceber que ela pode viver sem ela.
Chegamos em Pira já a noite e rumamos pro sítio. Fazia um tempo que eu não vislumbrava uma escuridão daquelas. A última vez, eu dormia num barraco de lona preta na Serra do Japi. Sabe quando abrir e fechar os olhos não muda? Desligamos o farol na estradinha de terra e parecia que a gente estava no espaço. Ainda de longe pudemos ver a casinha iluminada e algumas silhuetas que se juntavam em pequenas rodas. Nossa! Quanta gente! Atravessamos a porteira e soltamos a soFrida. Enquanto nos aproximávamos da luz, tinha uma surpresa atrás da outra. Todas aquelas pessoas. Todas. Com as quais eu vivi minha adolescência e de quem eu não sabia mais o telefone. Aquele que vai virar pai, aquele que casou, aquele que parou de fumar, aquela que continua igual...todos juntos. Ali! Não consegui dormir até às oito da manhã, ficamos bebendo e descobrindo, até o sol nascer atrás da colina. Todos se foram. Fui com a Frida nadar no açude. E depois dormi com medo de lembrar.

2 Comments:

Blogger  said...

lindo, lindo, lindo...

5:11 PM  
Blogger Angelamô said...

Ai, chorei descontrolada...
Que medo de lembrar!

4:16 PM  

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