quarta-feira, julho 26, 2006

De rolê pelo centro

Depois de um almoço Ó-TE-MO na casa de uma grande amiga, desci o Largo da Santa Cecília tendo como destino a Sé. Fui até o ponto de ônibus com ela, que ia para Pinheiros e de lá segui a pé para o Largo do Arouche. Atravessei a faixa de gaza sem nenhum percalço e desemboquei do outro lado do elevado. Ali já podia avistar a alameda que vai até a Praça da República. Atrás de mim, um senhor, forrado de latinhas de metal que saracoteavam no seu franzino corpo enquanto ele andava, gritava pro gari que tinha visto o escritório deles lá na Lapa e “que puta chefe folgado, hein? Porque não vai dormir em casa...”, delirando na gargalhada que eu podia sentir pelo tirintintar das latas. Já do outro lado da praça, peguei a travessa que acaba em frente ao Teatro Municipal. A fachada maltratada pelo tempo era o que formava um oásis de sombra em meio aquele caos iluminado pelo sol que caia direto sobre nossas cabeças. Mesmo assim, de cima de um alto-falante o homem trajando roupas do exército gritava em frente a uma bandeira vermelha o quão corrupta a elite burguesa era só por ser elite, ou só por ser burguesa. E as pessoas que lá passavam olhavam pro homem constrangidas e davam aqueles risinhos sem-graça, desviando do nada só pra não passar muito perto. Afinal, deve ser contagioso, ou então ele deve comer criancinha.
No Viaduto do Chá, estranhei a ausência das ciganas que insistiam em ler a sua mão por um cigarro. Realmente fazia tempo que eu não passava por ali. Mais uma da coleção Moto-Serra.

Chegando na praça Patriarca, uma surpresa: lá tem uma Igreja!! E é do Santo Casamenteiro. Minúscula, incrustada em meio aqueles prédios antigos que hoje abrigam lanchonetes com churrasquinho grego e suco na faixa, a igrejinha recebia alguns fiéis que guiados por uma senhora loura, de quem só pude ver os longos cabelos, rezavam um terço todinho em voz alta. Fiz um pedido, não pra casar (obviamente!) e deixei a igreja em direção à catedral.

Ainda nas vielas que se cruzam até chegar no Largo da Sé, um homem que dormia na entrada de um café foi escorraçado pelo segurança que o chamou de vagabundo preguiçoso e o sujeito, ainda cambaleante de sono retrucou em alto e bom som: “eu gosto de dormir!!! E daí?!”. Ainda rindo desta resposta sincera, me deparei com uma roda de pessoas atentas a alguma daquelas apresentações de rua que pipocam no centro. Um cara ameaçando dar um mortal dentro de um espaço de vinte centímetros quadrados ficava provocando o público e em cinco minutos que estive por lá ele não deu nem uma cambalhota.

Dei umas voltas por alguns sebos que parecem um buraco no tempo. Num instantinho, já era tempo de encontrar aquela minha amiga novamente. Dessa vez, em frente à Catedral, onde ela já me esperava. Fomos andando até o começo da R. Augusta. Descendo da Praça Ramos para o Vale do Anhangabaú, um menino descalço, com o tênis de lado, molhava os dedos na fonte que exalava um forte cheiro de cloro e matutava, enquanto revolvia a superfície do espelho d’água, vendo seu reflexo se desfazer e refazer, no mesmo espaço onde provavelmente sua bisavó foi vendida. Ali é a Ladeira da Memória.

2 Comments:

Blogger Angelamô said...

Quando eu chegava para encontrar a minha amiga, ali no umbigo de São Paulo, vi também uma batalha de pastores.
Cada um com sua roda de gentes em volta, sua bíblia na mão. As rodas estavam abertas e quase se encontravam.
Nem sei exatamente porque discutiam, mas cheguei na parte engraçada. Brandindo uma bíblia em direção às cabeças dos ouvintes, um deles dizia "Pra crer em Jesus, primeiro tem que ser muito maaaaacho!"

2:13 PM  
Blogger jubs said...

hahahaha
valeu, cuquinha!
foi um dia muito bom!
beijo

11:12 AM  

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