sexta-feira, novembro 17, 2006

Até que enfim um fim

Com eles sempre tinha acontecido assim, um acaso pensado. Ninguém sabia de onde vinha mas também ninguém perguntava como. Parecia que se encontravam sempre que queriam, por uma força do pensamento que acabava no susto de um ver o outro nos lugares mais quase-inesperados. E foi desse mesmo jeitinho que acabou.
Ela voltava do bar, onde fora comprar um maço de cigarros, coisa pouco usual, mas merecida naquele dia. Ainda subindo a rua de paralelepípedo, foi interrompida pelo carteiro que perguntava de uma tal de Violeta que ela nunca vira, a não ser na sua janela. Quando retomou o passo, avistou, ainda um pouco longe, ele. Andando faceiro com um sorriso nos lábios.
Tum-tum-tum.
Sentiu uma batida no peito que culminou num suspiro, não se sabe se de angústia, nervosismo ou ainda alguma felicidade.
Fazia um mês que não se viam. Ela, dúvida. Ele, silêncio.
Se aproximaram e se abraçaram daquele jeito que gostavam. Ela, na ponta dos pés, com os braços por cima dos dele.
Ele: Vamos conversar um pouquinho?
Ela: Você estava indo embora.
Ele: Não, estou indo comprar cigarros.
Ela mostrou-lhe o seu maço ainda fechado e ele, com um movimento de braço, a convidou para lhe acompanhar. Andaram ainda em silêncio até a esquina, quando ele lhe disse:
- Li seu e-mail.
Ela, ainda surpresa, não conseguiu abrir a boca, somente voltou sua cabeça a ele e mirou-lhe bem os olhos, esperando que ele continuasse.
Ele:
- Poesia...quando li, quis fazer uma imagem pra te dar. Mas resolvi te encontrar.
- Estranho...não esperava te encontrar tão cedo.
- É? Eu nunca evitei.
- É? Eu, sim. Você sumiu.
- Só consegui fazer assim. Eu sou assim.
- Sabe, a gente tem uma necessidade mesmo que ritual ou simbólica de finalizar as coisas, por isso as pessoas fazem velório, por isso que eu te escrevi.
- Essa necessidade vem mesmo da morte. Nossa coisa mais primitiva.
- Então, por quê o silêncio?
- Não sei...me apaixonei.
- Mas os apaixonados não fazem isso. Como você se apaixona, você escolhe?
- Não, por isso mesmo. Você é minha amiga.
- Você separa demais amiga de amante. Eu já te disse isso?
- Já. E, sim, eu separo. (silêncio) Vejo você falando e penso numa estrela cadente que vem incandescente e se apaga. As pessoas mudam.
- Quando a gente vive com os outros, eles criam expectativas sobre a gente. E precisamos cuidar deles. Mudar não significa ignorá-los.
- O silêncio não significa que estamos ignorando.
- Não? Quem pode dizer? Se não há palavras?
(silêncio)
- Gostava muito.
- Eu também... Mas fiquei puta. Puta por você não se importar com o que eu penso sobre você!
- Mas eu me importo! Achei o e-mail foda... Mas não tinha o que responder, você falou tchau!
- É, eu não esperava uma resposta mesmo...pelo menos não uma mensagem de volta.
- A gente ia se ver.
- É, mas enquanto isso....NADA!
- Eu tinha que finalizar outra coisa com outra pessoa.
- Mas isso não te dá o direito de não finalizar comigo!!!
Os dois se olharam.
Não iam brigar...
...então começaram a rir.
Ele:
- A gente devia ter feito isso tomando uma no bar.
Ela:
- Pelo menos...

Depois de contarem o que estavam fazendo com suas vidas e de fazerem promessas de amizade, devolveram um ao outro aquele abraço do começo. Um pouco menos trêmulo. Continuaram sem combinar nada. Mas acho que secretamente pensaram em não se ver.

Talvez...ano que vem.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Juju, que coisa linda! Adorei, fiquei com lágrimas nos olhos.

5:58 AM  

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