segunda-feira, março 30, 2009

Despertar

A noite é sedenta. É como se o corpo se dilatasse tanto quanto as pupilas. Ela nos ludibria como o tilintar do gelo que gira no copo, nos sacode como o samba que pulsa na cadência de uma batida orgânica, cardíaca. A minha ansiedade por vivê-la se traduz em uma felicidade incontida, explícita que esconde minha ingenuidade. Mas aquela menina que, às vezes, quer apenas a sorte de uma boa gargalhada, ou de um sussurro ao pé do ouvido continua lá. E ela toma conta de mim ao escutar baixinho a deliciosa súplica: “Calma”.
Quando a manhã chega e vejo o sol pelas frestas da persiana, sinto a vontade preguiçosa desta calma, deste silêncio atento que nos faz somente sentir. Com o corpo lento e dorminhoco parece que compreendemos melhor os nossos desejos. O carinho tem gosto de café novo, aquele que beberemos a seguir. Tenho a sensação de que a vida poderia se resumir a algodão cru e bolo de
fubá. É assim que guardo novamente no armário, as minhas sandálias de prata.