segunda-feira, setembro 25, 2006

A máquina não vê (ou Praia do Espelho)

O chão lambido pelo mar refletia o lilás celeste e virava tudo a mesma coisa. A mesma coisa... Separadas apenas por uma faixa, inerte agora, de um verde mais escuro. Verde manchado de branco. Branco revolto. Era o branco que era revolto.
Tinha em mim a lembrança destas cores. Não sabia que elas me aguardavam para hoje. Como eu queria que a caixa escura fosse meus olhos. Mas a máquina não vê...

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Andamos mais um pouco e voltamos à frente do cemitério de palafitas. O mar havia engolido aquilo que um dia fora uma casa... Talvez. As ondas iam e vinham incessantemente e estouravam na madeira podre. Exatamente como eu havia visto no cinema e que me fizera dormir naquela sessão das onze. Hoje elas me agradam. Me lembram da mansidão agressiva das águas, da existência do passado ou do que resta dele...apenas sua cicatriz. E agora estava eu, dentro daquele filme. Nesse solo lilás.

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Queria te mostrar... Mas a máquina não vê.

Histórias que se eu contar eu estrago

Uma amiga xingando o evangélico que falou mal da sua cervejinha.

Essa mesma amiga, depois de assumir todas as aulas de história do ensino fundamental I de uma escola estadual, ao som de Caetano Veloso cantando Carlos Gardel: " Eu deveria ter sido dançarina de tango"

Nove e meia da manhã e quatro pessoas pra coordenar a tranferência do lixo da balada de uma pá pro saco preto: "Cê não quer trocar de mão?"
Nada lúdico. Nem lúcido.

Minha cachorra catando no gol!

sábado, setembro 16, 2006

Avesso

A chuva enxarcando meus pés me dizia que eu precisava voltar pra casa. Hesitante ainda pelo papo bom, olhei no relógio e já batiam onze.
-Tchau! Tenho que ir.
O metrô um pouco cheio. Cheio de promessas de salto alto para um sábado úmido. A vontade de chegar meio inexplicável, como um frio que percorre as entranhas e desemboca no silêncio. Aquele de responder apenas o necessário enquanto se observa a rapidez do trem quase lento. Uma mistura de ansiedade e sufoco. Talvez um pouco de vertigem. A memória vaga de uma sensação antiga que ainda domina o corpo. Furor miúdo.
Na minha frente mãos dadas de uma maneia tão banal. A menina olha pro infinito e o rapaz, um pouco inquieto, presta atenção nas paradas, lê as placas e olha desconfiado para a senhora que tenta se equilibrar em cima de sapatos traiçoeiros. Com minha cabeça apoiada no vidro, tento lembrar o que foi hoje e o que foi ontem. Faz quantos dias mesmo?
A incerteza da chegada. O barulho do portão. Nada.
Uma pequena ousadia e só uma explicação.